Quando Carlos Silveira, delegado-chefe da Delegacia Especializada em Narcóticos (DENARC) coordenou a ação‑tática junto ao Receita Federal, 1,2 tonelada de cocaína foi apreendida no bairro da Redinha, em Natal na manhã de 29 de setembro de 2025. A droga, avaliada em mais de R$ 150 milhões, representa um dos maiores golpes já aplicados ao tráfico de entorpecentes no Nordeste.
Contexto do tráfico no Nordeste brasileiro
O estado do Rio Grande do Norte, por estar na rota das correntes marítimas que ligam o Pacífico à Europa, tem sido alvo de organizações criminosas que buscam pontos de armazenagem próximos ao mar e ao ar. Historicamente, a região tem servido como "porta de entrada" para cocaína proveniente da Colômbia e do Peru, antes de ser distribuída para capitais do Sudeste e do Centro‑Oeste.
Segundo dados da Polícia Federal, entre 2020 e 2024 o volume de apreensões no estado aumentou 38 %, refletindo a adaptação das quadrilhas às fiscalizações mais rígidas nos grandes portos do Sudeste. A Redinha, com sua proximidade ao Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves e ao porto de Natal, ganha contornos estratégicos nas escolhas dos traficantes.
Detalhes da operação e da apreensão
A ação, batizada de Operação Costa AzulRedinha, Natal, foi fruto de um longo trabalho de inteligência que durou quase oito meses. Oficiais da DENARC, apoiados por equipes da Receita Federal, monitoraram movimentações suspeitas de carga nas áreas próximas ao cais e identificaram um depósito improvisado em uma casa de frente para a praia.
Na manhã de 29 de setembro, agentes invadiram o local, encontrando sacos hermeticamente lacrados contendo 1 200 kg de cocaína em pó. A mercadoria foi imediatamente recolhida, preservando a cadeia de custódia para futuras investigações criminais.
O valor estimado de R$ 150 milhões foi calculado com base em preços médios do mercado ilícito — cerca de R$ 125 mil por quilograma, segundo o Conselho de Segurança Pública. Essa quantia representa um recuo significativo nos lucros das facções que operam na região.
Reações das autoridades e da comunidade
Em coletiva de imprensa, o superintendente da Receita Federal para o Nordeste, João Martins, destacou a importância da cooperação interinstitucional: "Quando unimos a expertise investigativa da DENARC com a capacidade de fiscalizar fronteiras da Receita Federal, conseguimos desarticular redes que, de outra forma, permaneceriam invisíveis".
O governador do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, elogiou o trabalho conjunto e prometeu reforçar os investimentos em tecnologias de monitoramento marítimo. "A Redinha pode ser um ponto turístico, mas não será refúgio para o crime", afirmou.
Moradores do bairro, porém, expressaram preocupações sobre a segurança nas próximas semanas. "A gente já viu coisas estranhas, mas agora tem a polícia aqui, o que esperamos é que não haja retaliações", disse Maria da Conceição, comerciante local.
Impactos para o crime organizado
Especialistas em segurança pública apontam que a apreensão pode desencadear um efeito dominó nas rotas de tráfico. O professor André Lima, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, observa que "perdas desse porte forçam as organizações a buscar novos corredores, muitas vezes mais arriscados, o que pode elevar a violência nas áreas de transição".
Além disso, a polícia federal já indica que parte da carga aparentemente estava destinada ao mercado europeu, o que abre a possibilidade de investigações internacionais. Autoridades da DEA (Drug Enforcement Administration) dos EUA foram notificadas, segundo fontes próximas ao caso.
Próximos passos e investigação
Com a droga já sob custódia, a fase de inquérito se concentra em rastrear os responsáveis pela importação e distribuição. A operação identificou duas placas de veículos suspeitos, ambos registrados em nome de empresas de fachada em São Paulo. A DENARC pretende solicitar mandados de busca em três cidades: Recife, Fortaleza e São Paulo.
Enquanto isso, a Receita Federal reforçará a fiscalização nos pontos de entrada portuários do Nordeste, incluindo a adoção de scanners de alta resolução para contêineres. O objetivo, segundo o superintendente João Martins, é "impedir que novos carregamentos cheguem ao território nacional antes que a investigação revele as rotas exatas".

Perguntas Frequentes
Como a apreensão afeta o mercado de cocaína no Nordeste?
A retirada de 1,2 tonelada retira cerca de 0,8 % da oferta estimada na região, provocando aumento de preços e pressão sobre as rotas alternativas utilizadas pelos traficantes.
Quem são os principais responsáveis pela operação?
A ação foi conduzida pela DENARC, liderada pelo Delegado Carlos Silveira, em parceria com a Receita Federal, comandada pelo superintendente João Martins.
Qual a reação da comunidade da Redinha?
Os moradores expressaram alívio pela presença policial, mas também preocupação com possíveis retaliações e com a necessidade de melhorar a segurança local.
Quais são os próximos passos da investigação?
A polícia seguirá rastreando as empresas de fachada ligadas ao carregamento, solicitará buscas em três estados e cooperará com agências internacionais, como a DEA.
O que isso indica sobre a estratégia de combate ao tráfico no Brasil?
A operação demonstra que a integração entre órgãos federais e estaduais pode gerar resultados expressivos, sugerindo que futuras ações seguirão o modelo de cooperação entre a DENARC e a Receita Federal.
Comentários
Joseph Tiu
A união entre a DENARC e a Receita Federal mostrou que cooperação interagências é essencial, principalmente em regiões estratégicas como a Redinha, onde o fluxo marítimo facilita o tráfico, e a presença de facções busca explorar essas lacunas. Operações bem planejadas, como a Costa AzulRedinha, demostram que o planejamento de inteligência pode antecipar movimentos dos criminosos, evitando perdas de vidas e recursos. É animador ver resultados concretos, e esperamos que isso inspire novas estratégias em todo o país.