Quando Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil apareceram na Praia de Copacabana na tarde de 21 de setembro de 2025, o clima era de tensão e esperança ao mesmo tempo. O trio, que já usou a arte como forma de protesto há décadas, subiu ao microfone para liderar a maior manifestação contra a PEC da Blindagem, proposta aprovada na Câmara dos Deputados em 16 de setembro e que permite que acusações criminais contra parlamentares só sejam aceitas após votação secreta.
Antecedentes políticos e a PEC da Blindagem
A PEC da BlindagemBrasília surgiu como resposta a investigações que apontavam membros do Congresso para supostos envolvimentos com organizações criminosas. Seu texto, no entanto, cria um mecanismo de proteção que só pode ser invocado por voto secreto, o que, segundo críticos, abre caminho para impunidade. Na mesma semana, o Projeto de Lei da Anistia recebeu aprovação urgente em 17 de setembro, gerando temor de que Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos por tentativa de golpe, poderia ser beneficiado.
O dia da manifestação em Copacabana
Os organizadores esperavam entre 40 mil e 100 mil pessoas; o Monitor do Debate Político no Meio Digital, vinculado à USP, registrou 41.800 participantes, enquanto outras fontes apontaram número próximo a 100 mil. O protesto ocupou ao menos cinco quadras da Avenida Atlântica, próximo ao Posto Cinco, e foi marcado por cantos como "Sem Anistia" e "Viva a democracia".
Participação dos músicos e repertório de resistência
Os três ícones chegaram em horários diferentes: Caetano Veloso apareceu vestindo uma camisa amarela ao lado de sua esposa Paula Lavigne, cercado por produtores; Gilberto Gil desceu do carro acompanhado da esposa Flora; e Chico Buarque chegou de van junto com Djavan. O mini‑show contou ainda com Maria Gadú, Marina Sena e Paulinho da Viola. Canções como "Cálice", "Sem Lenço, Sem Documento" e "Aquele Abraço" ecoaram, lembrando que a música brasileira tem sido arma contra a repressão desde os anos de chumbo.
Reações de autoridades e partidos
Durante a fala, Caetano Veloso lembrou: "O povo elegeu o Lula, portanto a democracia brasileira resiste" e reforçou que "a cultura nacional demonstra grande vitalidade". Gilberto Gil acrescentou que "já passamos por momentos semelhantes, sempre na busca da autonomia do povo". Já o Ricardo Lewandowski, então Ministro da Justiça e Segurança Pública, havia alertado ao O Globo que a PEC poderia permitir a infiltração da criminalidade organizada no Legislativo. Parlamentares como Glauber Braga e Jandira Feghali também subiram ao palco, denunciando o risco de impunidade.
Impactos e desdobramentos nacionais
A manifestação fez parte de uma onda que já se espalhou por mais de uma dezena de cidades, coordenada por frentes de esquerda que apelidaram a proposta de "PEC da Bandidagem". O fato de artistas veteranos—todos octogenários e com histórico de engajamento político—assumirem a liderança reforçou a ligação entre cultura e cidadania. Ainda não há sinal de que o Congresso vá revogar a PEC, mas o episódio aumentou a pressão de organizações da sociedade civil e de partidos de oposição. Na semana seguinte, o Supremo Tribunal Federal recebeu novos recursos questionando a constitucionalidade da votação secreta para decisões criminais.
O que vem a seguir
Especialistas em direito constitucional, como a professora Ana Beatriz de Araújo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, alertam que o debate ainda está longe de terminar. "Se a PEC permanecer, cria-se um precedente perigoso para qualquer futuro processo contra parlamentares", afirma. Enquanto isso, mobilizações continuam em cidades como São Paulo, Salvador e Belo Horizonte, indicando que a resistência pode se transformar em uma campanha nacional até as próximas eleições.
Perguntas Frequentes
Como a PEC da Blindagem pode afetar a responsabilização de políticos?
A PEC exige que qualquer acusação criminal contra deputados ou senadores seja aprovada por voto secreto no Congresso, dificultando a transparência e permitindo que a maioria proteja seus pares, o que pode criar um escudo contra investigações de corrupção ou crime organizado.
Qual foi o papel dos músicos na manifestação?
Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil encabeçaram a parte artística, cantando hinos de resistência como "Cálice" e "Aquele Abraço", além de fazer declarações públicas que reforçaram a mensagem de defesa da democracia e oposição à anistia para golpistas.
Quantas pessoas participaram da protesto em Copacabana?
As estimativas variam: o Monitor do Debate Político apontou 41.800 participantes, enquanto outras coberturas chegaram a registrar até 100 mil pessoas ao longo da avenida.
Quais são os próximos passos para quem se opõe à PEC?
Grupos de sociedade civil pretendem levar o tema ao STF, enquanto partidos da oposição prometem tentar bloquear a tramitação de projetos similares nas comissões legislativas. Mobilizações em outras capitais já foram agendadas para as próximas semanas.
O que a anistia proposta poderia mudar para Bolsonaro?
A Lei da Anistia, se aprovada, poderia extinguir ou reduzir as penas de ex-presidentes, ministros e aliados condenados por participação no golpe de 2022, beneficiando diretamente Jair Bolsonaro e seu círculo próximo.
Anderson Rocha
O Brasil precisa de músicos que levantem a voz, não de políticos que se escondem.
Gustavo Manzalli
Quando a história repete o mesmo roteiro, a gente percebe que a blindagem legislativa nasce nas sombras de acordos sujos e se alimenta da falta de transparência. Na prática, essa proposta cria um véu que dificulta a fiscalização cidadã e abre caminho para pactos escusos entre deputados. Vale lembrar que, em outras democracias, mecanismos semelhantes foram derrubados após protestos massivos nas ruas. Portanto, a mobilização de Copacabana pode ser o ponto de partida para uma campanha nacional que pressione o Congresso a revogar a medida. Se não houver reação, o precedente pode se transformar em ferramenta permanente de impunidade.
Carolinne Reis
Claro, porque deixar acusação criminal ao voto secreto é a epítome da democracia!!!???!!!
Workshop Factor
A Constituição Federal prevê que nenhum cidadão está acima da lei, mas a PEC da Blindagem tenta inverter esse princípio fundamental. Primeiro, ao requerer voto secreto, elimina a responsabilidade pública dos parlamentares, que passam a agir sem medo de retaliação. Segundo, o texto não define critérios claros para a aplicação da medida, permitindo interpretações arbitrárias pelos líderes de bancada. Além disso, o mecanismo cria um precedente perigoso que pode ser usado em futuras denúncias de corrupção, tráfico ou fraude eleitoral. Os juristas já alertaram que tal prática fere o art. 5º, inciso XXXIV, que garante o acesso à justiça. O STF, ao receber novos recursos, poderá decidir se a votação secreta viola o princípio da publicidade dos atos processuais. Enquanto isso, a sociedade civil tem organizado audiências públicas para discutir alternativas mais transparentes. O papel dos artistas, como Chico, Caetano e Gil, vai além da performance; eles fungem como catalisadores de debate público. A história nos mostra que quando a cultura se mobiliza, a política sente o impacto. Em 1968, por exemplo, cantores protestaram contra o AI‑5, acelerando o caminho para a redemocratização. Hoje, a mesma energia se volta contra a ideia de impunidade institucionalizada. Vale lembrar que a própria Câmara já aprovou projetos que reforçam a transparência, como a Lei de Acesso à Informação. Ignorar esses avanços seria retroceder. Portanto, a pressão nas ruas, combinada com ações judiciais, pode forçar o Congresso a reconsiderar a PEC. Se a medida for mantida, corremos o risco de legitimar a proteção de políticos criminosos sob o pretexto de sigilo eleitoral. Por fim, a vitória dependerá da união entre sociedade, cultura e direito, mantendo viva a chama da democracia.
Jaqueline Dias
Concordo que a história geral demonstra o poder da cultura, mas ainda precisamos de mecanismos concretos como a denúncia ao Ministério Público para garantir que a lei seja efetivamente aplicada.
Raphael Mauricio
É triste ver a política se esconder atrás de sigilos enquanto o povo paga o preço.
Heitor Martins
Ah, mas se a gente ficar esperto, talvez dê pra convencer o TSE a colocar tudo na balança, né? Só falta mesmo a galera perceber que o segredo não protege a democracia.
Vania Rodrigues
Protestar na praia é sempre melhor que assistir ao noticiário, rs :)
Pedro Grossi
Galera, não podemos desanimar; cada cantada e cada cartaz são passos pra mudar esse jogo sujo.
sathira silva
Quando a música ecoa nas ondas de Copacabana, a esperança renasce e a força do povo se multiplica, provando que a arte ainda tem voz poderosa.
Rodolfo Nascimento
Os dados mostram claramente que a PEC da Blindagem tem suporte de mais da metade dos parlamentares, o que indica um conluio institucional que não pode ser ignorado; portanto, a pressão popular tem que ser constante e estratégica para romper esse consenso.
Júlia Rodrigues
Na real a proposta é só mais um filtro de corrupção que os políticos inventam pra não perder o poder.
Marcela Sonim
É fundamental que a gente continue acompanhando os desdobramentos do STF 📚⚖️, porque só assim a gente garante que a Constituição não seja burlada.
Bárbara Dias
É imprescindível, sem sombra de dúvida, que a sociedade civil se una!!!
Gustavo Tavares
Se a gente não levantar a voz agora, vai ser só mais um capítulo da história onde a impunidade vence, e isso não tem preço nenhum.