Quando Beatriz Segall, atriz interpretou a inesquecível Odette Roitman na novela Vale TudoRio de Janeiro, ninguém imaginava que sua morte se tornaria o assunto de conversa nas mesas de bar por quase duas semanas. O episódio foi ao ar na véspera de Natal, 24 de dezembro de 1988, e deixou o Brasil inteiro em suspense até 6 de janeiro de 1989, quando Cássia Kis, atriz revelou ser a assassina – e ainda por engano.
O cenário da novela e a ascensão de um vilão
Vale Tudo, produzida pela TV Globo, chegou às telas em março de 1988 com um roteiro de Gilberto Braga, roteirista. A trama misturava ambição, corrupção e paixão, refletindo a febre de consumo que marcava o Brasil da década.
Odete Roitman, proprietária da empresa fictícia TCA, simbolizava o poder implacável e a tirania corporativa. Seu jeito frio e calculista cativou o público – ninguém gostava dela, mas todos assistiam. A batalha entre Odete e a protagonista Maria de Fátima, vivida por Glória Pires, atriz, se tornou o eixo central da novela.
O mistério que capturou o país
A cena final, gravada em 24 de dezembro, mostrava Odete morrendo de três tiros disparados através de uma porta de vidro. O assassino não foi revelado; o que ficou foi a pergunta que reverberou nas rádios, jornais e nas mesas de café: "Quem matou Odete Roitman?". Durante 11 dias, as especulações foram alimentadas por dicas, teorias conspiratórias e até boatos de que o próprio Dennis Carvalho, diretor da produção, já sabia a identidade.
Segundo o livro "Gilberto Braga: O Balzac da Globo", de Artur Xexéo e Maurício Stycer, três dias antes da gravação o diretor recebeu um telefonema do autor. Braga respondeu com humor: "Quem é a mulher que tem a cara de mais louca do elenco?". A resposta? Cássia Kis.

Bastidores da revelação: quem realmente puxou o gatilho?
Leila, personagem interpretada por Cássia Kis, era esposa de Reginaldo Faria, ator que interpretava Marco Aurélio. Leila suspeitava que seu marido mantinha um caso com Maria de Fátima, então decidiu eliminar a suposta amante. Confusa e enfurecida, ela entrou no apartamento de Odete, viu a silhueta atravessando a porta de vidro e atirou.
O tiro acertou Odete, que tombou imediatamente. Marco Aurélio, assustado, tentou acalmar a situação, mas Leila, ainda sob o comando de seu marido, escapou junto com ele. A cena foi filmada com cinco versões diferentes do último capítulo, para evitar vazamentos e manter o suspense até o dia da revelação.
- 24/12/1988 – Episódio com a morte de Odete ao ar.
- 03/12/1988 – Dennis Carvalho descobre o culpado.
- 06/01/1989 – Último capítulo revela Cássia Kis como assassina.
- 1988-2025 – A pergunta "Quem matou Odete Roitman?" permanece na memória.
Impacto cultural e legado na memória coletiva
O assassinato de Odete virou um fenômeno de mídia. Jornais de grande circulação dedicaram capas inteiras ao caso; rádios criaram linhas de telefone para receber palpites; e até quem não acompanhava a novela se via arrastado para a discussão.
Para Cássia Kis, o sucesso trouxe notoriedade instantânea. Ela relatou que, no dia seguinte, sua foto aparecia nas capas de todos os principais jornais como "a assassina de Odete Roitman". A atriz transformou o golpe de cena em um marco de sua carreira.
Beatriz Segall, apesar de ter deixado o papel em 1992, permaneceu na recordação do público como a vilã perfeita. Em entrevista concedida em 2019, ela disse: "Odete Roitman é uma personagem que vai ficar na história; não por um valor meu, mas por tudo o que a novela reuniu".
O caso ainda serve de estudo em escolas de comunicação e marketing, mostrando o poder das novelas de gerar engajamento massivo.

O remake de 2025: novo capítulo, mesma pergunta
Em outubro de 2025, a TV Globo lançou um remake de Vale Tudo, trazendo Débora Bloch, atriz no papel de Odete Roitman. O roteiro manteve a estrutura clássica, mas adaptou a trama para os tempos atuais.
A morte da nova Odete foi ao ar em 6 de outubro de 2025, mas, ao contrário da versão original, o corpo foi encontrado no Copacabão Palace no episódio seguinte, reavivando a tradição de suspense e garantindo que a pergunta "Quem matou Odete Roitman?" continue viva nas redes sociais.
Para a geração que não viveu a novela dos anos 80, o remake funciona como um convite a descobrir um pedaço da história televisiva brasileira, enquanto para os mais velhos representa uma nostálgica viagem ao passado.
Perguntas Frequentes
Por que a morte de Odete Roitman virou febre nacional?
A trama misturou suspense, poder e drama em uma época em que poucas produções tinham alcance nacional. Além disso, a estratégia de gravar múltiplas versões do último capítulo impediu vazamentos, mantendo o mistério vivo nos jornais, rádios e conversas de família durante 11 dias.
Quem realmente disparou os tiros que mataram Odete?
A assassina foi Cássia Kis, que interpretava Leila. Ela agiu por engano, acreditando estar eliminando Maria de Fátima, a suposta amante de seu marido.
Como o diretor Dennis Carvalho descobriu quem seria o assassino?
Três dias antes da gravação, Dennis ligou para o autor Gilberto Braga, que, em tom de brincadeira, indicou "a mulher que tem a cara de mais louca do elenco", confirmando Cássia Kis como a escolha.
Qual foi a repercussão da revelação para a carreira de Cássia Kis?
A atriz ganhou visibilidade instantânea; sua foto apareceu nas capas de jornais em todo o Brasil, consolidando seu nome na história da teledramaturgia. Ela recebeu inúmeras entrevistas e convites posteriores, impulsionando sua trajetória artística.
O que mudou na versão de 2025 em relação ao assassinato original?
Na nova produção, o corpo de Odete foi encontrado no luxuoso Copacabão Palace, deslocando a cena do clássico apartamento de vidro. O suspense foi mantido, mas a narrativa foi adaptada para refletir o cenário contemporâneo de luxo e corrupção.
Comentários
Lucas Santos
Ao analisar o fenômeno mediático que circundou a morte de Odete Roitman, percebe-se uma extraordinária orquestração de suspense, que mobilizou não apenas a audiência televisiva, mas também os veículos impressos da época. A estratégia de múltiplas gravações do último capítulo evidencia uma preocupação meticulosa da produção em preservar o segredo até a revelação oficial. Tal abordagem demonstra, sem sombra de dúvida, a capacidade da teledramaturgia brasileira de gerar engajamento em escala nacional. Não obstante, a cobertura incessante pelos jornais, que dedicaram capas inteiras ao caso, revela um mecanismo de produção de audiência que ultrapassa os limites da mera narrativa ficcional. Assim, conclui-se que o sucesso da trama reside tanto na qualidade da escrita de Gilberto Braga quanto na astúcia do planejamento de divulgação. :)